Eleições: Outsider X Establishment


O Brasil passa por uma das conjunturas mais efervescentes e decisivas de sua história política. Na iminência de uma eleição de suma relevância para se decidir quais rumos e posturas serão adotados no país em termos de norte ideológico, são explanados pelos atores sociais, dos mais aos menos influentes, manifestos opinativos incisivos e animosos, que, no entanto, carregam consigo a mácula uniforme do fragmentário senso comum, dócil ao status quo. Com lucidez cambaleante, oriunda da crônica despolitização da cultura nacional e da contínua anestesia desinformante dos meios tradicionais de comunicação e instituições de ensino, o cidadão médio brasileiro vagueia diante de um antagonismo do qual se encontrara órfão em pleitos anteriores.

O diferencial do atual cenário não reside meramente no número incomum de candidatos à presidência com chances reais de vitória, mas na presença de um claro posicionamento oposicionista a um estamento burocrático (também denominado establishment) vigente há décadas. Tal sistema é constituído por instituições tradicionais influentes, como partidos políticos (encabeçados por PT, PSDB e PMDB); meios de comunicação (emissoras, revistas e jornais tradicionais, que recebem verbas do Estado); sindicatos (estima-se que havia mais de 17.000 sindicatos no Brasil até a extinção do imposto sindical, tendo crescido em 250 por ano nos 8 anos que antecederam 2013); instituições de ensino (tanto escolas quanto universidades são aparelhadas por grupos ligados à ideologia marxista, avessa a praticamente toda espécie de marco civilizatório ocidental; algo expresso em evidências claras, como os levantamentos da Unesco, em que  mais de 75% dos professores entrevistados se mostraram alinhados aos princípios do espectro esquerdista, e da Gazeta do Povo, que mostrou que, tendo como base as 5 melhores universidades brasileiras, de acordo com o ranking da Times Higher Education, a proporção de autores de esquerda abordados nos cursos superiores em relação aos autores conservadores e liberais é de 4,2 para 1; somado a isso, o ideólogo marxista Paulo Freire é reconhecido por lei como patrono da educação brasileira, que é regulada pelo Ministério da Educação, tanto no setor público quanto no privado); e os 3 poderes da República (constituídos por uma classe política fisiologista antirrepresentativa, eleita com base no ineficiente sistema eleitoral proporcional, que favorece candidatos não contemplados por maioria de votos, e por juristas, para as mais altas instâncias, que atuam sob gritante suspeição, indicados por seus réus potenciais). 

Desde a redemocratização, o panorama político no Brasil é marcado pela polarização entre partidos que representam nuances superficialmente distintas de um mesmo espectro ideológico. Social-democracia e socialismo de viés latino-americano (também conhecido como "bolivarianismo", arraigado institucionalmente ao Foro de São Paulo, que é composto por partidos e grupos de esquerda, como as FARC, e que foi fundado após a queda do muro de Berlim com o intuito de reerguer o movimento marxista na América Latina, outrora sustentado pela URSS, e reordenar suas estratégias), misturados com personificações do fisiologismo, se revesaram no poder por 20 anos, realizando reformas econômicas anestésicas e instituindo medidas erráticas de ajuste fiscal ao mesmo tempo em que agravavam e originavam suntuosas mazelas sociais: crescimento descontrolado da criminalidade; cerceamento parcial do direito de legítima defesa; geração de incentivos visceralmente contraproducentes, mediante burocracia sufocante para empreendedores e reajustes privilegiados para o funcionalismo público; péssimos desempenhos do ensino; mecanismos de corrupção institucionalizados através da nefasta amálgama entre morosidade judicial, impunidade e capitalismo de Estado; e instrumentos de censura gradual, encabeçados pelo Marco Civil da Internet. Tais problemas representam não apenas a degradação do rico patrimônio cultural do Brasil, mas também um obstáculo contínuo ao progresso econômico consistente, emperrado por desarranjos institucionais que incutem efêmera transitoriedade aos períodos de crescimento do país.

A população brasileira, majoritariamente cristã e com crenças conservadoras, se dispõe no espectro ideológico da seguinte maneira, segundo pesquisa do especialista em marketing Marcelo Faulhaber: 55% tem costumes conservadores e visão estatista da economia; 16% tem costumes conservadores e uma visão liberal na economia; 23% tem costumes liberais e uma visão estatista da economia; e 6% tem costumes liberais e uma visão liberal da economia. Isso mostra que o país passou por décadas de crise de representatividade na política, tendo seus algozes ideológicos, em parceria com as instituições asseclas, gerindo cada vez mais sua vida mediante o poderio estatal. A presença de um candidato ao cargo mais alto da República assumidamente cristão, conservador e focado nos problemas mais urgentes da população (segurança, transparência e cultura) em detrimento de questões periféricas no imaginário popular e das quais esta não possui entendimento claro (como a questão das reformas econômicas, que apesar de essenciais, não atingem a raiz dos problemas) trazem contornos de ineditismo na história democrática do país.

É posta uma oportunidade ímpar de se concretizar a ávida e, por tanto tempo, órfã demanda por um representante legítimo das convicções dos cidadãos brasileiros, que personifica o justo e embasado sentimento de revolta para com o apodrecido estamento burocrático. A tentativa, por parte da mídia tradicional, somada à frequente propagação de notícias falsas, de moldar os critérios do eleitorado na direção do enfoque em falhas pouco relevantes de sua personalidade, além de demonstrar fracasso, tem reforçado um dos motivos pelos quais há tanta identificação popular para com a figura do referido outsider (aquele que está fora do sistema): a ausência de casos de corrupção ou nódoas relevantes em sua vida pregressa (algo que lhe confere credibilidade no discurso em prol da transparência), forçando os detratores a recorrer aos seus comuns defeitos humanos.

Diferentemente do mercado, na democracia as alternativas ofertadas (candidatos e partidos) geralmente possuem pouca reciprocidade para com os desejos dos demandantes (eleitores), compelindo o votante a optar pelo pacote de propostas e características que menos destoem de suas preferências; algo essencialmente pragmático. Não é razoável anular o próprio direito de escolha devido à ausência de concordância plena, ou mesmo por se pautar em critérios que sejam avulsos às necessidades centrais das quais padece a nação. A defesa, guiada pelo indispensável ceticismo a utopias inerente ao conservadorismo, da redução das atribuições do Estado; do direito à legítima defesa respaldado por arma de fogo; do enrijecimento das penas para criminosos; e de uma reforma discernente nas instituições de ensino, constitui a clamante prioridade da sociedade brasileira.


Cadastre seu e-mail em "inscrever-se" para receber nossos artigos em sua caixa de entrada e nos acompanhe nas redes sociais.

Comentários

  1. O argumento do parágrafo final foi muito bom. A "lucidez cambaleante" brasileira deveria deliberar a respeito disso nas suas escolhas.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Cadastre seu e-mail na barra "seguir" para que você possa receber nossos artigos em sua caixa de entrada e nos acompanhe nas redes sociais.