O abalo na relação entre direitistas e forças de segurança

Julgamento de Policial Militar (Abuso de Autoridade) - Advocacia ...

Os decretos proibitivos impostos por quase a totalidade dos governadores e centenas de prefeitos brasileiros, restringindo as mais diversas liberdades individuais, desde o direito a culto ao direito de ir e vir, têm trazido, como efeito colateral, certo sentimento de reprovação por parte da população conservadora às forças de segurança, em especial às polícias estaduais (Civil e Militar) e às guardas municipais.

Não é novidade que há muito tempo os policiais brasileiros são massacrados pela grande mídia, classes artística, estudantil e intelectual do Brasil, todas estas ligadas à esquerda brasileira. Tornou-se comum os gritos de “polícia fascista”, ou “porcos fardados”, ou “eu quero o fim da Polícia Militar”, em todos os protestos de “estudantes”, de sindicalistas, ou do MST, além de filmes, músicas e produção literária (nem vamos considerar aqui as pichações nos muros e viadutos das cidades) que humilhavam os policiais brasileiros.

Esse cenário começou a mudar com a ascensão da direita, que tinha, inclusive, um militar da reserva como o seu principal líder político, Jair Messias Bolsonaro. Daí então a imensa maioria da população passou a expor apoio total às polícias e aos policiais, com aplausos em todas as manifestações da direita em todo o país e inúmeras postagens nesse sentido nas mais diversas redes sociais. Havia, de fato, um lindo namoro entre a direita e as forças de segurança brasileiras, um relacionamento quase inabalável e que parecia intrínseco ao direitismo (pelo sentimento ordeiro) e à condição de agente de segurança (pelo reconhecimento do apoio dado por parte daqueles).

Há alguns anos que alerto que esse “namoro”, embora necessário, também poderia se tornar perigoso, pois os agentes da Nova Ordem Mundial, imprescindivelmente, usariam as forças de segurança para impor suas agendas; mas que, num contexto social desvirtuado, em que um bandido valia mais do que um policial, esta situação precisava ser mudada com urgência e essa mudança reclamava a urgente valorização do policial.

Porém, a pandemia do vírus chinês veio para pôr em xeque esse namoro, mostrou que as polícias tinham um amante que sequer os ama: o Estado. As polícias são órgãos de Estado e, por definição, isso implica que estão submissas aos chefes do Executivo, ou seja, as polícias cumprem ordens. Portanto, por mais que os policiais não amem o Estado e tenham jurado estar a serviço da sociedade, as polícias, por sua vez, mantém este “relacionamento extraconjugal” com os chefes dos Executivos estaduais – ou municipais, no caso das guardas municipais - e, como se fosse por alguma chantagem ou medo de um escândalo, preferem ficar do lado da amante: o Estado. Ou, talvez, seja o oposto, o relacionamento extraconjugal seja com a população e, por mais que as polícias a amem, por questões de obrigações oficiais, no final das contas, ficam do lado do seu cônjuge legítimo: o Estado. Em qualquer uma dessas hipóteses, no final das contas, as polícias sempre estarão a serviço do poder estatal.

E assim começamos a perceber certo desânimo de boa parte dos direitistas para com as forças de segurança - seja para com as Forças Armadas, em função de uma suposta ou existente omissão diante das contínuas afrontas pelos Poderes da República à Constituição Federal e da crise institucional instaurada em decorrência disso, além da corrupção generalizada e sistêmica; ou para com as forças estaduais e municipais, em função da obediência quase que canina aos desmandos de governadores e prefeitos e pelos próprios abusos cometidos por elas no cumprimento das ordens destes durante essa crise sanitária.

Consequentemente, governadores e prefeitos - COMUNISTAS - têm conseguido jogar a população direitista contra as polícias e também não poderia eu dizer que estas não têm, nem que seja uma mínima culpa, nisso, pois quando se trata de fazer greves ou paralisações pleiteando melhores salários, os policiais e/ou guardas municipais desobedecem às ordens de governadores e prefeitos, respectivamente, e vão com tudo, quase sempre deixando a população na mão, em busca dos seus interesses classistas. Entretanto, agora obedecem prontamente a ordens tirânicas contra o povo, impedindo as pessoas de passear pelas praças, prendendo pessoas que querem trabalhar, entre outros absurdos ainda mais graves.

Da ótica do policial devemos salientar a previsão no Código Penal, em seu artigo 319, onde tipifica o crime de prevaricação, que ocorre, grosso modo, quando o servidor retarda ou deixa de fazer sua obrigação legal para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Isso implica dizer que, por mais que os policiais ou guardas municipais não queiram fazer valer as ordens tirânicas de, respectivamente, governadores e prefeitos, são obrigados a obedecê-las por força de Lei, em razão das suas atribuições funcionais. Eles, então, se veem nessa situação conflitante, para dizer o mínimo, onde precisam agir contra quem mais os apoia, a direita. Lembremos aqui do que bem falou o professor Olavo de Carvalho: “No Brasil o proletário é a direita e a burguesia é a esquerda”. Daí, percebemos o quão difícil deve ser na cabeça de um policial enfrentar esse dilema: ir pra cima de quem está honestamente buscando o seu ganha-pão ou daquele que está simples e inocentemente passeando numa praça ou nadando no mar.

Para finalizarmos, devemos abordar também a parcela de culpa da população, que, não por coincidência, me parece ser também quem possui o caminho para a solução. Quantos governadores ou prefeitos defensores da livre iniciativa, das garantias fundamentais, de um Estado menor face ao cidadão, foram eleitos pela população nos seus respectivos estados e municípios? Quantas vezes as pautas conservadoras saíram vitoriosas nas urnas das últimas eleições estaduais e municipais? Em Jair Bolsonaro podemos, sim, entender perfeitamente o significado de termos um chefe do Executivo compromissado com as pautas conservadoras, o que, no contexto ora abordado, traduz-se em defesa das liberdades individuais e em oposição ao apequenamento do cidadão perante o poder estatal. Imagine só se tivéssemos um João Doria na Presidência da República, talvez você precisasse passar álcool em gel nos olhos para poder ler este texto sem correr o risco de ser preso.

Não poderia eu, ativista de direita e tendo recentemente sido intimado a depor à polícia por ter participado de protesto de rua contra essas tiranias estatais, fazer discurso conformista e pregar uma postura passiva da população perante este estado de coisas. No entanto, não poderia também deixar de questionar quantos vereadores, deputados estaduais ou federais estão do lado de quem quer e precisa trabalhar, bem como salientar que eles chegaram ao poder senão por escolha do próprio povo. Será que trabalhadores, empregadores e empregados, votarão ou mesmo financiarão candidaturas de quem sufoca o emprego? Será que os amantes da justiça e da liberdade votarão em candidatos que não têm compromisso real para com estes valores?

Essa situação absurda, desumana, desoladora, tem porções de culpa em todos os setores aqui abordados: políticos, forças de segurança e pela própria vítima disso tudo, a população – a detentora não mais de uma solução para esta crise de agora, mas aquela que de fato detém a possibilidade, por via de boas escolhas político-eleitorais, de fazer com que novas calamidades sociais, como esta que vivemos hoje, não sejam repetidas num futuro bem próximo. Pois, se políticos que, de fato, sirvam à população forem eleitos, as forças de segurança serão, inevitavelmente, servas do povo.


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