BRASIL: SENADOR IZALCI ANALISA ANDAMENTO DA PEC DAS DROGAS

Reunião ministerial vazada: entenda os efeitos e entrelinhas

Em duas horas de reunião, Bolsonaro e ministros disparam 42 ...

O imensamente repercutido vídeo da reunião ministerial com o presidente Bolsonaro, que supostamente serviria como prova para apontar seu suposto anseio de interferência política na Polícia Federal, apontado com pomposa convicção pelo ex-ministro Sergio Moro a ponto de embasar sua saída abrupta e traumática, com ares de divórcio, do governo, além de acarretar em efeitos diferenciados, trouxe à tona um contexto chocante discernido apenas pelos que detêm a humilde ótica popular.

Antes de qualquer análise de mérito em relação ao conteúdo do vídeo, é preciso compreender a dimensão do ato, proferido por uma notória autoridade da cúpula do Judiciário, um Poder Constitucional, de publicar, quase integralmente, o que foi dito em uma reunião reservada e confidencial das maiores autoridades do Executivo, um outro Poder Constitucional, tratando de assuntos de Estado e contendo dizeres de teor sigiloso, que naturalmente não seriam ditos em público, por questões de conveniência ou mesmo de própria segurança nacional. Isso remete a um cenário, não de mera desarmonia entre poderes, mas de grave descomprometimento para com a normalidade democrática, que por sua vez já vem sendo gradualmente aviltada há anos, inclusive por desmandos inconstitucionais.

A parte inicial da reunião se ateve a uma breve exposição do também breve, mas muito pretensioso, "Programa Pró-Brasil", criado sem a participação do Ministério da Economia por integrantes do governo avulsos o suficiente da área econômica para não calcular, nem mesmo de forma estimada, as limitações de recursos de cada ministério e compará-lo ao famigerado Plano Marshall, auxílio realizado em um cenário de pós-guerra, precedido por robusta disposição fiscal do auxiliador e constituído por um montante financeiro antologicamente elevado. Comparação duramente criticada pelo Ministro da Economia, Paulo Guedes, que relembrou a situação de terra arrasada das finanças públicas nacionais, nas três esferas do Poder Executivo. Como disse veementemente o economista, a retomada da produção e do emprego deve estar atrelada aos investimentos privados, que são atraídos por um ambiente de negócios confiável, proporcionado por contas públicas organizadas e respaldo jurídico aos contratos firmados, fatores que seriam drasticamente comprometidos com a realização do afobado projeto intervencionista, já testado e fracassado com diversas roupagens, mas sempre supostamente recheado de boa intenção, expressa por clichês sociológicos. Ao retrucar a dura repreensão de Guedes, os proponentes do plano usaram de uma famosa tática sofística, muito praticada por heterodoxos da economia, para, empobrecidamente, denegrir a credibilidade do discurso do oponente: associar a tese antagônica ao termo "dogma", como se fosse atrelada a uma bitola fideísta e como se a sua própria ideia não se embasasse, ainda que inconscientemente, em rígidos pressupostos pertencentes a uma cartilha ou escola de pensamento, que inclusive o empirismo, tão exaltado por tais sofistas, rechaçou cabalmente.

Outros pontos chamativos do evento, que grande parte da mídia resumiu em meros palavrões e xingamentos a autoridades institucionais, se traduziram em reações espontâneas a configurações absurdas e aviltantes geradas, fundamentalmente, por desmandos de autoridades máximas dos três poderes. Os sentimentos expressados pelos ministros e pelo Presidente são compartilhados pela população majoritária do Brasil, que, desprovida dos freios litúrgicos institucionais de Estado, não expõe sua indignação sob a roupagem artificialmente comedida cara a tais dispositivos, mas, tomada por revolta justa, expele aquilo que hipócritas e enganadores chamam de obscenidades, embasados num senso de proporções totalmente desajustado que encobre os verdadeiros escândalos, contra os quais os autênticos protestam. Os participantes da reunião, sem premeditações teatrais próprias de uma exibição pública, apenas ecoaram a atmosfera das ruas contra os indivíduos que corroem a democracia brasileira de dentro das próprias instituições do Estado de Direito e, arrogantemente, exigem uma reverência quase paroquial do mesmo povo que desprezam e ofendem diuturnamente. Nada que mais expresse a democracia do que isso.

Não obstante a virtuosa demonstração de sintonia popular de alguns ministros e do Chefe de Estado, foi possível perceber a postura omissa e acovardada, que prenuncia a traição, por parte de verdadeiras bandas podres que integram, ou ao menos integravam, a equipe de governo, como os Ministros da Justiça, Sergio Moro, que, como já se sabe, abandonou a plataforma política escolhida pelo povo por caprichos nebulosos, e da Saúde, Nelson Teich, que não durou nem sequer um mês à frente da pasta, alegando o receio de arriscar sua reputação por uma medida meramente execrada pelo establishment (a criação de um simples protocolo autorizando o uso da hidroxicloroquina, um remédio barato e usado em todo o mundo para combater a ação do Coronavírus) e um princípio de depressão ocasionado pela elevada pressão atrelada ao cargo, uma vulnerabilidade que claramente lhe é marcante, até mesmo em sua expressão corporal, submissa e de baixa autoestima. Enquanto o primeiro não emitiu uma só palavra sobre o absurdo abuso de autoridade praticado contra cidadãos idôneos que apenas descumpriram quarentenas descabidas, o segundo apresentou uma postura apática e passiva perante uma série de imposições midiáticas cínicas e desprovidas de autoridade, revestidas por um cientificismo fictício.

Cabe destaque também às indiscretas ocultações de partes do vídeo onde claramente transpareciam referências à China, na maioria das vezes contendo críticas incisivas contra suas nuances ditatoriais. Tal cuidado tomado pelo Ministro do STF apenas revela a ameaçadora submissão de várias autoridades e instituições brasileiras à ditadura estrangeira, que, como dito pelo Ministro Abraham Weintraub, "quer nos transformar em sua colônia". Essa realidade se confirma pelos constantes atos de autocensura, travestidos de postura diplomática, às mínimas alusões críticas ao regime chinês, praticados pelas mesmas personalidades que admitem ofensas frontais aos Estados Unidos, por exemplo, baluarte da liberdade e da democracia.

Em meio a tantos elementos reveladores avulsos à finalidade investigativa declarada, praticamente se perde o já questionável sentido da publicação do vídeo. A pequena parte da reunião em que se fala sobre eventuais interferências em órgãos públicos de segurança pelo presidente não mostra citação direta a nenhum deles, deixando no ar afirmações inconclusivas, de contornos até mesmo corriqueiros e naturais, e enaltecendo a baixa relevância daquilo que é chamado de evidência de crime pelo acusador. Esse acontecimento sem precedentes na história do Brasil, em que se rompeu uma vez mais as aparências de normalidade democrática do país, apenas fortaleceu politicamente um presidente já aclamado pelo povo por sua incomum sintonia com os traços populares da sinceridade, da autenticidade e do patriotismo.


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