O que é o fascismo e em que ele assemelha com a esquerda?!


No fim do século XX para o começo do século XXI, O termo "fascista" tornou-se comum entre os xingamentos de determinados militantes que muitas das vezes não conseguem nem ao menos definir ou elencar as principais características desse movimento despótico e sanguinário. Isso faz parte da novilíngua esquerdista, uma ação desonesta onde um pequeno grupo tenta atribuir um novo sentido, ou até mesmo esvaziá-lo, para poder criar uma nova concepção no imaginário coletivo. Por conta disso que vemos conservadores, liberais e libertários, doutrinas políticas que em poucos aspectos assemelham-se, sendo xingadas de fascistas pelo simples fato de discordar do esquerdismo.

Afinal, o que exatamente é o fascismo? Como ele surgiu? Quais as suas características? Em que esquerda e/ou direita estão de acordo com tal movimento? 

O surgimento do fascismo está ligado à história da política italiana pós-Primeira Guerra Mundial. Em 1922, Benito Mussolini venceu uma eleição democrática e estabeleceu o fascismo como sua filosofia. Mussolini, assim como os principais nomes do movimento Fascista, era membro do Partido Socialista Italiano. O fascismo representava uma ameaça aos socialistas principalmente porque tratava-se de um corte menos abrupto a mais provável de se aplicar no mundo real do que as principais teorias socialistas. 

O Fascismo é um movimento de cosmovisão coletivista que tem como norte a deificação do Estado e da autoridade para implementar um ideal de homem não como um ser composto por características e interesses individuais, mas sim como alguém que responde aos interesses do coletivo que encontra sua representatividade no Estado, logo tal homem que não se configura nessa perspectiva não possui valor algum.

"Anti-individualista, a concepção fascista da vida enfatiza a importância do Estado e aceita o indivíduo apenas na medida em que seus interesses coincidam com os do Estado, que representa a consciência e a vontade universal do homem como uma entidade histórica." (Benito Mussolini, A Doutrina do Fascismo, p.16)

"A única liberdade válida, a liberdade do Estado do indivíduo dentro do Estado. A concepção fascista do Estado é totalmente abrangente; fora dele inexistem valores humanos ou espirituais. (Benito Mussolini, A Doutrina do Fascismo, p.17)

Como se pode notar, Mussolini também pregava o mesmo jogo de linguagem dos socialistas de hoje e criava para o termo “liberdade" uma nova e particular acepção, sobre a qual a única liberdade possível se constitui por meio da submissão plena ao poder do Estado. Logo, o ser humano inexiste como tal se não submeter-se a desempenhar seu papel numa engrenagem coletiva, cujo encaminhamento é determinado pelo Estado, de cima. 

Semelhantemente, isso ocorre diante de movimentos Marxistas que, com intenção de buscar a igualdade entre as classes, têm por obrigação desempenhar um papel social e coletivo diante do partido até chegar à grande utopia. 

O filósofo britânico Roger Scruton também elencou as semelhanças entre o fascismo e o socialismo/comunismo:
"O comunismo, assim como o fascismo, envolve a tentativa de criar um movimento popular de massa unido a um Estado, submetido á regra do partido único no qual haverá total coesão para o objetivo comum. isto exige a eliminação da oposição por quaisquer meios, e a substituição da disputa ordenada entre partidos pela discussão clandestina dentro dos limites de uma única elite dominante." (Roger Scruton, Pensadores da Nova Esquerda, p122). 

O fascismo, tal como o comunismo/socialismo, entende a democracia liberal como uma farsa que entrega o poder nas mãos da burguesia, então somente um partido popular e único, que excluísse a elite burguesa do jogo, seria capaz de solucionar essa situação. Um dos maiores nomes da nova esquerda, Antonio Gramsci, dizia que a democracia é o poder do povo, a burguesia é o não-povo, logo não devem participar do jogo democrático. Para Mussolini, a democracia pluripartidária é ilusória e seria melhor deixar o poder nas mãos de poucas ou até uma pessoa hábil para representar o povo do que nas de vários agentes eleitos segundo a quantidade em vez da qualidade. 

Por último ponto, que os fascistas se concordam com os socialistas é a profunda absoluta rejeição às doutrinas do liberalismo, seja na esfera econômica seja na política. Para Mussolini, o capitalismo liberal aliena os indivíduos num sistema que os engana com pequenos lampejos de conforto, porém esse movimento já era terra arrasada que estaria abrindo espaço para o novo regime com o alvorecer fascista. Enquanto, para Marx, o capitalismo seria o culpado pelo acúmulo de riqueza nas mãos dos burgueses, em detrimento da pobreza e da exploração da mão de obra do proletariado.

Embora o fascismo não seja um movimento per si, um movimento socialista, é inegável encontrar diversos aspectos desde a sua construção histórica, partindo de dissidentes do Partido Socialista Italiano, até os demais fatores elencados, como anti-individualismo, coletivismo, rejeição ao sistema de mercado e centralização do poder na mão de um Estado que fala em nome do “povo”. Tudo isso nos leva a entender que o fascismo está muito mais com os pés presos na cosmovisão partilhada pela esquerda do que à direita.


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