China: a censura estatal que destruiu milhares de vidas


Nesta semana estamos encerrando mais um mês de um pandemia que vem durando 9 meses, se contarmos a partir dos primeiros contágios. Em meio a 600.000 mortos, economias devastadas, desemprego e miséria alcançando picos estarrecedores. O que muitos não sabem (ou se esqueceram) foi que a censura chinesa nos impediu de poupar milhares de vidas. 

Todo esse contexto de totalitarismo insere-se em um governo facínora. Em outubro de em 1949 ocorre revolução liderada pelo líder Comunista Mao Zedong (Mao Tsé Tung) criando um novo regime denominado República Popular da China. Passam-se os anos e 80 milhões de mortes, seja por assassinatos de dissidentes, seja por fome (fruto de políticas econômicas marxistas). A China resolve fazer graduais concessões ao capitalismo, mas não àquele de mercado, que prima pela liberdade individual e livre iniciativa do cidadão, mas sim por um capitalismo controlado pelo Estado, o que nos últimos anos ganhou respaldo de investidores e do mainstream global, levando o país, uma economia agrária e destruída, a se tornar a segunda maior economia do mundo. 

Apesar de tais concessões na política econômica, o mesmo não aconteceu em relação aos direitos civis, principalmente a liberdade de expressão. De acordo com estudos do cientista político Gary King, o Partido Comunista Chinês promove o maior ato de restrição à liberdade de expressão da história da humanidade. Cerca de 50 mil profissionais participam do processo, isso se deixarmos de fora mais 300 mil integrantes do partido que também colaboram, assim como as empresas privadas, que precisam revisar o conteúdo dos seus próprios sites. 

O primeiro estudo conduzido pela equipe de King em 1.382 sites chineses analisou publicações sobre diversos temas em intervalos variados para descobrir como foram censurados 11 milhões de posts sobre 85 temas diferentes, de política a videogames. No segundo, King e companhia criaram disfarçadamente contas falsas em 100 sites de redes sociais e publicaram conteúdos para ver quais seriam barrados – e chegaram ao ponto de criar uma mídia social própria na China. 

Todo esse trabalho levou a concluir que a infraestrutura de censura da China é incrivelmente eficiente, uma vez que os posts "indevidos" foram removidos em cerca de 24 horas com eficácia militar. E os censores chineses se concentram em conteúdos que se referem, instigam ou de alguma forma se relacionam a ação coletiva, como protestos organizados – mesmo que sejam apolíticos. 

Durante esse período de pandemia, toda a estrutura de censura chinesa foi usada para esconder as primeiras contaminações, seja censurando palavras na internet, proibindo veículos de mídia ou até fazendo com que denunciantes sumissem. 

No primeiro caso, o PCC (Partido Comunista Chinês) começou usando dos meios de desinformação, criando narrativas que descredibilizassem quaisquer alertas. No dia 31 de dezembro de 2019 a Comissão Municipal de Saúde de Wuhan lança nota assumindo um surto de pneumonia viral na cidade, relacionada a frequentadores de um mercado de frutos do mar. Não há transmissão de humano para humano, segundo a nota. A doença "é evitável e controlável". Um dia depois, usando a imprensa para desmentir as notícias sobre um surto de Coronavírus, "a polícia [de Wuhan] apela a todos os internautas para não fabricarem rumores, não espalharem rumores, não acreditarem em boatos". 

Outro modo de censurar foi por meio da censura direta, destruindo provas e prendendo denunciantes. O jornal britânico The Times noticiou que uma autoridade regional de saúde de Wuhan exigiu a destruição das amostras de laboratório que apresentaram similaridade do surto com um tipo de Coronavírus. Segundo outra notícia veiculada, dessa vez num jornal de Wuhan, Chutian Metropolis Daily, 8 pessoas foram presas por espalhar informações falsas sobre um surto de pneumonia, criando "impactos sociais adversos". Entre elas está o médico Li Wenliang. O mesmo Li Wenliang é preso mais duas vezes até que, em 06/02/20, o batimento cardíaco do médico Li Wenliang para oficialmente às 21:30. Nas redes sociais a mídia estatal chinesa relata a sua morte, mas as postagens são excluídas na sequência. 

O bloqueio de redes sociais também é exercido através dos mecanismos de censura, O YY, uma plataforma de transmissão ao vivo chinesa, começa a censurar 45 palavras-chave relacionadas ao Coronavírus, como 武汉 不明 肺炎 (pneumonia desconhecida de Wuhan), 爆發 (SARS), 疫情 (surto de SARS em Wuhan) e 沙士 变异 (variação SARS). Um dia depois o WeChat exerce censura em massa. São 132 palavras-chave relacionadas ao Coronavírus censuradas entre 1 e 31 de janeiro e mais 384 entre 1 e 15 de fevereiro. Sendo que algo próximo de 1 bilhão de usuários ativos mensais, mais de 50% dos chineses, assumem depender do WeChat para obter informações e comunicação. 

Além desses fatos, outros diversos envolvendo agressão policial a transeuntes nas ruas, prisões arbitrárias e censura de cientistas foram executadas. Isso nos leva a entender o real preço da nossa liberdade, que nunca deve ser trocada por segurança ou recursos financeiros. Essa barganha da própria liberdade pode custar até a sua própria vida.
  

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