Deve o governo interferir nos preços?



Estamos vivenciando uma alta abrupta nos preços de alguns produtos. Muitos ainda conseguem utilizar tal situação para enganar os menos instruídos, proliferando mentiras do tipo: a culpa é do mercado, de produtores ou comerciantes, que estão se aproveitando da situação para explorar a população que já se encontra bastante calejada. Estamos aqui para esclarecer os fatos e garantir que a culpa de tal aumento não é dos agentes econômicos acima mencionados. 

Precisamos analisar a conjuntura atual. Apontaremos pelo menos dois fatos que estão corroborando para o aumento dos preços: 

1) Através de política monetária elaborada pelo Banco Central, ocorreu uma desvalorização cambial, isso quer dizer que o real perdeu seu valor diante do dólar. Para ilustrar melhor, no final de 2019 o cidadão conseguia comprar um dólar com R$4,02, hoje para comprar esse mesmo dólar ele precisa de mais de R$5,00. Qual a consequência disso? Fica mais caro importar, e mais vantajoso exportar produtos, pois ao exportar, a cada dólar que se recebe, se consegue transformar em mais de R$5,00. Por causa disso, houve aumento da exportação, e vale salientar que os produtores não estão errando ao enviar seus produtos para o exterior, porque eles estão vendendo por uma moeda forte, porém o abastecimento do mercado interno foi drasticamente reduzido, não por um choque de oferta, mas por estarmos com o câmbio artificialmente desvalorizado. Com menos produtos no mercado interno, a tendência é que o preço aumente, para não haver esgotamento; 

2) Por causa da crise sanitária que estamos enfrentando foi injetada na economia uma enorme quantidade de dinheiro (isso não foi ação exclusiva do governo brasileiro, mas de vários governos ao redor do mundo adotaram tais medidas). Com mais dinheiro na economia, a exemplo do auxílio emergencial, ocorre um aumento do consumo e assim, aumento dos preços, principalmente no setor de alimentos, onde não houve redução no consumo. 

Agora que temos uma pequena noção da conjuntura econômica, percebemos que o aumento atual dos preços é facilmente explicado pela ciência econômica. Em suma, temos dois grandes fatores: o câmbio artificialmente desvalorizado e a expansão monetária. 

Chegamos à questão principal. Deve o governo interferir nos preços? Para responder a essa pergunta, usaremos um exemplo rápido e recente. No início da pandemia houve um gigantesco aumento da demanda por álcool em gel, com isso, seu preço disparou, o que os liberais defendiam em tal situação? O governo não deve intervir nos preços, porque gera consequências extremamente negativas para a economia, pois, supondo que o governo segurasse os preços anteriores ao aumento, o produtor não seria estimulado a aumentar sua produção, o que ocorreria seria uma escassez de álcool em gel no mercado. Mas diferente disso, não houve interferência do governo, o mercado por si só resolveu, a oferta se ajustou, os produtores passaram a produzir mais e em pouco tempo o preço voltou ao normal. 

Em contraste com o exemplo anterior, basta o leitor pesquisar o que aconteceu com a indústria do etanol, quando o governo de Dilma Rousseff resolveu controlar o preço da gasolina. Se estes exemplos não lhe convenceram, ou para o leitor mais curioso, sugiro leitura do livro “Forty Centuries of Wage and Price Controls”. O livro é um histórico de mais de 4 mil anos, de governos que praticaram controle de preços, e causaram verdadeiras desastres econômicos. 

Infelizmente, neste momento, muitos políticos se aproveitam da situação e passam a implantar o controle de preços em seus discursos. Passa até a ser promessa de campanha, pois é uma medida populista que parece ser simples e correta para a população, já que ninguém está disposto a pagar mais pelo mesmo produto, mas que é totalmente controversa ao conhecimento econômico, causando danos que podem ser irreparáveis para a economia do país.


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