Uma análise do debate da TV Arapuan


O primeiro debate da eleição para a prefeitura de João Pessoa, na TV Arapuan, bastante aguardado por conta do grande número de candidatos, sobretudo entre os favoritos, gerou a expectativa de embates acalorados, sobre as notáveis diferenças entre as plataformas políticas e assuntos mal resolvidos na trajetória de alguns dos principais debatedores.

Apesar de ter começado de forma movimentada, com o questionamento de João Almeida (Solidariedade) a Edilma Freire (PV), candidata apoiada pelo atual prefeito Luciano Cartaxo (PV), sobre o fato de as escolas públicas da rede municipal de João Pessoa apresentarem os piores resultados no IDEB em relação a diversas cidades, inclusive com menos recursos financeiros que a capital paraibana, o debate esfriou consideravelmente antes mesmo de o segundo dos exaustivos 4 blocos chegar ao fim. A errática condução do jornalista Luís Tôrres, claramente confuso diante do precário planejamento da equipe da emissora, se revelou em diversos aspectos, quando não percebeu, no segundo bloco, que João Almeida, por ter sido o primeiro a realizar sua pergunta, deveria ter sido o último a responder, mas foi o antepenúltimo. A solução encontrada pela produção foi permitir que João respondesse uma pergunta a mais que os demais candidatos, sob a condição de responder uma a menos no último bloco, algo que não foi cumprido, favorecendo o candidato. As falhas voltaram a ocorrer, já no terceiro bloco, o tema sorteado pelo mediador para que o debatedor da vez, João Almeida, perguntasse foi "políticas para mulheres", mas o candidato simplesmente escolheu outro tema, novamente questionou Edilma sobre as escolas municipais. Diante disso, Tôrres pareceu estar na dúvida se deveria intervir, advertindo o candidato para que respeitasse o tema sorteado, ou se meramente deveria permitir a escolha de João. Tal indecisão fez com que interrompesse a fala do questionador, que perdeu a linha de raciocínio e foi recompensado com tempo extra para sua indagação. Outros dois fatores incômodos foram a questão do microfone das tribunas onde os candidatos debatiam, cujo áudio era imediatamente cortado ao término do tempo regulamentar para as respectivas falas, algo que prejudica os telespectadores e debatedores, que têm sua comunicação com o eleitor tolhida pelo simples fato de exceder poucos segundos, e também a concessão, ou não, dos direitos de resposta solicitados ao longo do debate apenas no último bloco, no qual os participantes já nem lembram com precisão do que era discutido. Para piorar tudo, o debate teve a parte das considerações finais cortada para os telespectadores da TV, pois o tempo do qual a emissora local dispunha no canal ao qual é afiliada, Rede TV, foi excedido, dando lugar a um programa de exibição nacional.

Guardadas as ressalvas à condução e ao formato do debate, o desempenho dos candidatos, de forma geral, foi mediano, com alguns destaques. Os candidatos Wallber Virgolino (Patriotas) e Edilma Freire surpreenderam positivamente. O primeiro com lucidez incomum sobre as necessidades do setor privado de João Pessoa, sobretudo as da construção civil, marcando território na defesa do liberalismo econômico, e com uma proposta inovadora para o setor de saúde, o programa Saúde Inclusiva (que tive a honra de formular), que consiste em parceria da prefeitura com instituições privadas de saúde para que atendam, em seus horários ociosos, os pacientes da fila do SUS; apesar de ter cometido um deslize em sua primeira fala sobre o tema corrupção, em razão do cansaço da viagem de ida e volta a Coremas para recepcionar o presidente Bolsonaro, pôde se redimir em bloco posterior quando o tema voltou à tribuna, sendo mais assertivo. Já a segunda, não obstante o nítido nervosismo revelado pelo ritmo acelerado de sua fala e pelo semblante tenso, demonstrou objetividade e assertividade em suas falas, ressaltando o resultado do IDEB de 2019, recentemente divulgado, que mostrou um avanço no alunado da rede municipal pessoense que, apesar de moderado, superou a meta; ademais, esteve evidente o seu estigma de "cunhada do prefeito" advindo da escolha de Luciano Cartaxo, enaltecendo o teor oligáquico-familiar, que já se mostrou em 2014 e 2018, com seu irmão Lucélio Cartaxo (PV), para ser a candidata de seu partido, algo que não foi rebatido em nenhum momento pela ex-secretária.

Outros dois candidatos, considerados entre os favoritos, o jornalista da TV Correio Nilvan Ferreira (MDB) e o ex-prefeito Cícero Lucena (Progressistas), chamaram atenção pelo confronto direto entre si, algo pouco procurado pelos principais debatedores durante o debate, que claramente buscaram, na maior parte do tempo, as famosas "conversas de compadres", usando adversários que pouco ameaçam captar votos de seu respectivo eleitorado para expor as próprias propostas. Nilvan questionou Cícero a respeito de políticas para o combate à corrupção e, na réplica, apontou a "contradição" de seu oponente, ao defender em sua resposta medidas que buscassem inibir o problema, mas ter como aliado, ao mesmo tempo, o governador João Azevêdo (Cidadania), apontado como operador de propinas no escândalo investigado pela Polícia Federal na Operação Calvário. Na tréplica, Cícero esboçou uma defesa que possivelmente não será mais adotada em confrontos futuros em virtude de sua pouca consistência: insinuou que o único responsável pelo escândalo da Calvário é o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), afirmou que não possui "procuração" para tratar disso e que não gastaria tempo de sua fala sobre o assunto. A explicação foi duramente refutada por Ruy Carneiro (PSDB), seu antigo discípulo, ao trazer à tona o fato de Ricardo ter trabalhado para eleger Azevêdo e este ter sido "eleito para continuar o esquema", tese reforçada por Wallber, que insinuou uma semelhança da coligação de Cícero com uma organização criminosa. Ademais, o jornalista esbanjou esperado domínio da oratória e ressaltou o fato de ter levado seu plano de gestão impresso ao debate e o ex-prefeito remeteu, sempre que possível, ao que fez quando teve oportunidade de governar João Pessoa, apontando o que pretende fazer, que, segundo ele, não pôde realizar em sua época por conta das possibilidades geradas pelo avanço tecnológico dos últimos anos, caso volte a ser prefeito.

Raoni Mendes  (DEM) e Ruy Carneiro (PSDB), dois coadjuvantes moderados que poderiam ser protagonistas, como sempre ocorreu antes de 2018, caso não houvesse candidatura alinhada ao eleitorado conservador e bolsonarista no pleito, que é incorporada por Wallber Virgolino, procuraram expor tecnicismo e propostas criativas, derivadas do conceito de Cidades Inteligentes, mas servir como "trampolim" para que o candidato do Patriotas se destacasse e se firmasse mais como o candidato dos conservadores pessoenses acabou sendo a principal função de ambos no debate. Já os candidatos mais à esquerda, Pablo Honorato (PSOL), Anísio Maia (PT) e Carlos Monteiro (REDE), exporam seus costumeiros cacoetes totalitários e falaciosos, que provavelmente entraram por um ouvido e saíram pelo outro dos telespectadores. Destaque para o candidato do PSOL, que, exalando o costumeiro uso político da pandemia em favor de maior controle do Estado sobre as pessoas, foi o único participante a usar máscara, e para Anísio, que carimbou o status de bolsonarista em Virgolino, rememorando a atmosfera política de polarização de 2018 entre Bolsonaro e PT, que favorece o candidato do Patriotas, já que a maioria dos eleitores da capital paraibana depositou seu voto no atual presidente. Já o favorecido João Almeida, apoiado pelo ex-bolsonarista Julian Lemos (PSL), revelou, tão cedo, a inconsistência de seu posicionamento como aspirante a direitista, ao rechaçar categoricamente a defesa do armamento civil.

O cansativo debate, que durou cerca de 3 horas, foi mais interpretado pelos candidatos como um evento para apresentar suas propostas e seus status, com alfinetadas pontuais a adversários. O recém-anunciado candidato Ricardo Coutinho provavelmente não participará de nenhum debate, pois, por determinação da Justiça, precisa estar em casa depois das 20:00, restando-lhe propagar o folclore de seu posicionamento esquerdista. Nos próximos confrontos, os embates entre os favoritos tendem a se mostrar frequentes.


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