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Uma análise do debate do SOMA Network

O debate do grupo SOMA Network, uma associação de empresários de diversas áreas em João Pessoa, foi diferente dos demais em vários aspectos, seja positiva ou negativamente. Teve um número menor de candidatos, o que tornou mais úteis e pertinentes o tempo e as participações dos debatedores, sem a presença de coadjuvantes irrelevantes no pleito; as perguntas foram feitas apenas pelos empresários filiados à associação presentes no evento, que trataram apenas de temas técnicos, o que livrou candidatos em complicações com a Justiça do desgaste público necessário; e contou com a primeira presença de Ricardo Coutinho (PSB), livrado pelo STJ do recolhimento noturno obrigatório, em um debate entre prefeitáveis nesta eleição, criando um clima no mínimo estranho, sobretudo quando este falava em propostas para a saúde, epicentro da Operação Calvário, da qual é o principal alvo.

As perguntas e o contexto do evento praticamente obrigaram os candidatos a adotar o discurso mais economicamente liberal possível, tendo que explicar como facilitariam a vida do empresariado da capital, como reduziriam carga tributária, como desburocratizariam e desinchariam a máquina pública, caso fossem eleitos. Não por acaso, os candidatos coadjuvantes mais à esquerda, Carlos Monteiro (REDE), Anísio Maia (PT) e Ítalo Guedes (PSOL), substituto de Pablo Honorato (PSOL), que desistiu da candidatura, não compareceram ao debate, sem que fosse explicado pela organização se foi porque não foram convidados ou simplesmente não quiseram participar. Entretanto, Ricardo, sendo inegavelmente um dos principais personagens deste pleito, marcou território na representação do pensamento esquerdista, destoando dos demais e defendendo abertamente a manutenção de altas alíquotas de impostos e taxas e a suposta finalidade "social" disso, sem negar, porém, a necessidade de informatização e desburocratização da prefeitura, mesmo tendo feito exatamente o contrário quando teve oportunidade de ser gestor público. Ademais, para não bater de frente a todo momento com o perfil da plateia e a toada dos demais debatedores, inchou seu discurso com obras que realizou como prefeito e governador, inclusive, em alguns momentos, usurpando feitos alheios, no caso da construção do Trauminha, por exemplo, que foi apenas inaugurado em sua gestão.

Durante as quatro longas horas de duração do debate foi explorada em detalhes a maneira pela qual seriam tomadas as medidas propostas por cada prefeitável. Essa exigência foi atípica em relação aos outros debates, tendo em vista que neles os questionamentos muitas vezes seguem teores mais políticos e menos técnicos, restando a estes uma abordagem bastante concisa e muitas vezes superficial. Com isso, o debate do SOMA desnudou uma capacidade bastante limitada por parte da maioria dos candidatos presentes em explicar como se daria a execução das propostas, algo já esperado, em virtude de os prefeitáveis terem outras prioridades em seu dia a dia que não sejam tornarem-se doutos, como pedir votos nas ruas, fazer reuniões, visitas e se inteirar sobre as demandas de seus respectivos eleitorados. Essa realidade se mostrou com a frequente repetição de termos e ideias gerais para ocupar o tempo de fala. Edilma Freire (PV), que até surpreendeu positivamente desde o primeiro debate, esteve aparentemente abalada, insegura e com linha de raciocínio pouco consistente em várias de suas falas. Nilvan Ferreira (MDB), fazendo jus ao seu histórico de comunicador calejado e ao fato de ter um dos melhores marqueteiros do Brasil, Lucas Salles, destilou truques retóricos, tentando ressaltar sua suposta identificação com os mais pobres e soltando indiretas a Cícero Lucena (Progressistas) e principalmente a Ricardo, com o uso sucessivo da palavra "calvário" em contextos diversos de suas falas. Wallber Virgolino (Patriotas), que tem sido o candidato que mais evolui de um debate para o outro na forma de expor suas ideias, mostrou firmeza e comprometimento para com uma gestão verdadeiramente liberal na economia, um tom que já vem adotando desde o início da pré-campanha, tendo seu plano de governo servindo inclusive de referência para candidaturas cujo eleitorado é assemelhado, como é o caso de Ruy Carneiro (PSDB) e Raoni Mendes (DEM), que adotaram propostas marcantes do primeiro, a exemplo dos programas de parceria público-privada na área da saúde, a fim de zerar a fila do SUS para exames, e da educação, para ofertar vagas em creches privadas a crianças de 0 a 3 anos que não são atendidas pela rede pública. Apesar do plágio, os dois últimos prefeitáveis possuem maior habilidade de retórica que o defensor original das ideias que adotaram, tendo a vantagem de na maioria das vezes apresentá-las de forma mais clara.

Como tem se tornado marcante em praticamente todos os debates desta eleição, não foi diferente com o grupo SOMA, tendo apresentado falhas incômodas na estrutura do evento. O microfone da tribuna oscilava bastante em seu funcionamento, estando desligado durante várias falas, o que dificultou a compreensão dos que acompanhavam pela internet. Ao invés de resolver o problema com microfones alternativos ou simplesmente com o conserto dos defeituosos, a organização do evento pareceu não perceber ou não se importar com o ocorrido, no entanto, inexplicavelmente, foi concedido tempo extra de fala para dois candidatos específicos, Nilvan e Raoni, sob a exata justificativa de que houve "problema no áudio para os telespectadores", que não foi reparado para os outros candidatos, durante todo o debate. Ambos foram orientados pelo mediador a repetir o que haviam acabado de dizer, levando-os a ficar acanhados, já que teriam que exaurir a plateia presencial com as mesmas ideias. Para completar, realizaram a repetição das falas sem nenhuma reparação dos áudios.

Nas considerações finais o evento foi drasticamente energizado pelo clima tenso iniciado pela fala de Ruy Carneiro, que, olhando para Ricardo, afirmou que a presença deste no debate o constrangeu. Em seguida foi iniciado um bate-boca nos bastidores entre os dois candidatos, rapidamente reprimido pelo mediador. A nova toada não se encerrou nisso. As considerações finais de Wallber endossaram a abordagem, quando este ressaltou que de nada adianta ter ótimas propostas para vários assuntos se o candidato não tem mãos limpas, fazendo uma impactante comparação do evento com uma audiência de custódia, que foi fortemente repercutida nas redes sociais, aproveitando inclusive o fato de Wallber, um delegado de polícia, ter se sentado entre Ricardo e Cícero, dois ex-presos. Ademais, como já era esperado, este último esteve muito mais aliviado das críticas sobre sua ligação com um dos principais alvos da Operação Calvário, o governador João Azevêdo (Cidadania), já que Ricardo, com sua presença, trouxe para si os holofotes do assunto.


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