UMA ANÁLISE DO DEBATE DA RÁDIO ARAPUAN

UMA ANÁLISE DO DEBATE DA RÁDIO ARAPUAN

O exótico debate para governador da Paraíba promovido pela rádio Arapuan, também transmitido pela televisão, se deu numa atmosfera bastante atípica, pelo menos diante do que se espera para o decorrer da campanha eleitoral. Além das ausências protocolares da maioria dos candidatos nanicos por conta da falta de representação de seus respectivos partidos na Câmara federal, foi sentida em especial a ausência do governador João Azevêdo (PSB), explicada por conta de sua ida à cerimônia de posse de Alexandre de Moraes como presidente do TSE, em Brasília.

Partindo do pressuposto de que esse seria um "debate das oposições", houve ainda um formato pouco usual em que cada candidato ocupava um alardeado "paredão", sendo sabatinado por todos os seus adversários, um por um. Isso pareceu ser algo mais interessante do que a dinâmica tradicional adotada nos debates anteriores, mas condicionado ao incomum tempo disponível  proporcionado pelas ausências citadas, fazendo com que, ainda assim, o debate terminasse com menos de duas horas de duração. Apesar das incômodas falhas técnicas de áudio e enquadramento de câmera no início, foi um evento razoavelmente bem executado pela emissora.

O primeiro bloco, em que os candidatos responderam a perguntas de jornalistas, sendo dois deles da área policial, mostrou o repertório escasso de todos os debatedores presentes sobre os assuntos de segurança pública e cultura paraibana, temas abordados nos questionamentos. É frequente a percepção de que os candidatos são bastante prolixos e pouco objetivos em suas respostas sobre temas relevantes para o estado.

Dois dos quatro candidatos presentes protagonizaram o debate: Veneziano (MDB) e Nilvan Ferreira (PL). Uma das razões para isso foi o fato de terem utilizado bem os embates obrigatórios com a candidata do PSOL, cada um da sua maneira: enquanto o campinense fez dobradinhas pró-Lula (PT), atacando frequentemente o presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu governo em praticamente qualquer assunto, o apresentador da TV Correio aproveitava esses espaços para rebater falácias contra o governo federal com dados de fácil acesso, expondo o alto grau de desconexão da narrativa lulista com a realidade. Ambos ganharam pontos com sua base natural de eleitores. Vale salientar, no entanto, que Veneziano vez por outra revela um quê de peixe fora d'água enquanto personagem pró-PT, quando, por exemplo, se recusou a propor política de cotas para gays e travestis ao ser questionado pela candidata do PSOL, chegando a parecer um "liberal meritocrático" por alguns poucos minutos, e não recusou aliança com nenhum dos adversários num eventual segundo turno, nem mesmo com aqueles que apoiam o presidente, a quem ataca severamente em seu discurso. Ele parece estar um pouco deslocado no cumprimento dessa representação mais à extrema-esquerda, o que pode acarretar maiores dificuldades para Lula e Ricardo Coutinho (PT) na tarefa de transferir votos ao emedebista.

A outra razão pela qual o bolsonarista e o lulista quase monopolizaram os holofotes se dá com base no fato de que os dois se exaltaram em níveis acima da média do debate quando discutiram sobre processos dos quais Nilvan é réu e sobre o passado recente de aliança entre Veneziano e o governador, a quem por ocasião o campinense critica. Ao ser confrontado sobre o famoso caso do suposto estelionato na venda de roupas falsificadas, Nilvan esboçou uma resposta assertiva, lendo uma decisão judicial favorável a ele, enquanto Veneziano leu o trecho de um processo em que o apresentador ainda seria réu. Esse embate foi pouco conclusivo e deve ter deixado boa parte dos ouvintes confusos com o juridiquês abordado pelos candidatos. Ademais, em diversos momentos do debate, ambos trocaram farpas em outros assuntos, com ares de rixa pessoal. Os dois também aproveitaram muito bem em suas respectivas retóricas a ausência de João, massificando-a quase sempre que tinham oportunidade e chegando a refutar a justificativa alegada pelo governador, tendo em vista que o próprio Veneziano, como vice-presidente do Senado, também foi convidado para a cerimônia do TSE e preferiu estar no debate. De forma perspicaz, Nilvan impôs mais um apelido ao chefe do Executivo estadual, colocando-o como "João fujão", que estaria receoso de novas confrontações em torno de suspeitas e denúncias de corrupção envolvendo seu governo e ele.

Não aproveitando a polarização ideológica, como de costume, Pedro Cunha Lima (PSDB) voltou a apresentar um discurso pretensamente inovador e "liberal", batendo na tecla do ensino público no intento de massificar essa temática como sua principal bandeira. Ele acabou hesitando na defesa da liberdade econômica e do "Estado mínimo" quando questionado se privatizaria a Cagepa, uma medida que parece primária a um liberal, deixando em aberto a sua visão sobre o assunto. O ponto positivo do tucano se deu quando focou, apesar de pouco se aprofundar, em questões mais práticas e menos abstratas, inclusive na boa sacada que proferiu no tema do aborto, ressaltando a importância da assistência dos serviços de saúde pública no momento do parto para desincentivar as mulheres mais pobres a praticar abortos. O deputado evitou mencionar casos de corrupção ligados ao governo João e até mesmo à Operação Calvário, talvez porque um de seus principais apoiadores, Romero Rodrigues (PSC), tenha sido citado nela e tenha tido sua gestão na prefeitura de Campina Grande como alvo da Operação Famintos, resumindo suas críticas à atual gestão estadual ao teor meramente técnico. Isso compromete a firmeza de seu ímpeto oposicionista, assim como o fato de seu pai e seu avô já terem sido governadores da Paraíba compromete sua retórica de inovação.

Até a fase final do debate, Nilvan repetiu, inclusive numa dobradinha com Pedro, mantras de livre mercado que soam como música aos ouvidos da classe média, como facilitações para o agronegócio e redução de impostos, embora propostos de forma pouco detalhada, como foi comum entre os debatedores. Ele também fez um pouco de uso da toada do Major Fábio (PRTB), ausente no debate, se colocando como avulso às oligarquias Vital do Rêgo e Cunha Lima, lembrando do vergonhoso vínculo do ex-prefeito de Campina com o inelegível Ricardo Coutinho (PT), chamando este de corrupto. Isso se deu na última das numerosas confrontações entre Veneziano e Nilvan, agitando o clima das considerações finais.


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