BRASIL: MORAES SE REÚNE COM LIRA PARA TENTAR “APROXIMAÇÃO”

Crise e intervenção: o caso de 2008


A crise econômica de 2008, cujo epicentro foi o setor imobiliário da economia americana, instigou exaustivas reflexões e estudos. Boa parte das inferências que circundam o tema postula que a recessão teve origem, fundamentalmente, na desregulação do sistema financeiro, que teria gerado os incentivos tortuosos que acarretaram na crise, tendo possibilitado que as instituições financeiras efetuassem empréstimos com base em critérios pouco rigorosos de exigência de garantias de pagamento, aliados à liberação de reservas fracionárias. No entanto, o cenário macroeconômico global, as inovações tecnológicas, que impulsionaram os mercados a um novo patamar de complexidade, e o risco moral gerado pela postura do banco central como emprestador de última instância têm sido, por vezes, negligenciados na análise.

A exemplo da Regulation Q, constituída em 1933 com base no Glass-Steagall Act, que limitava a taxa de juros dos depósitos de poupança, reduzindo os custos dos bancos bem estabelecidos ao cercear a competição, diversas modalidades regulatórias tornaram-se obsoletas com o passar do tempo, tornando claro o fato de que a crescente desregulação se constituiu uma imposição da realidade. É também de fácil assimilação a percepção de que os agentes reguladores, burocratas em grande parte avulsos às nuances mercadológicas, são menos capazes de lidar com as vicissitudes dos mecanismos de interação financeira do que deveriam ser para estar à altura do grau de eficiência requerido pela função na qual seu cargo se arvora. Sendo assim, a desregulação realizada no período pré-crise possui muito mais o caráter de erraticidade e defasagem, no sentido de estar aquém do necessário, do que de força motriz de desordem econômica por ser supostamente excessiva. É preciso frisar que a própria existência de uma entidade (Banco Central) que se propõe a arbitrar diretrizes com força de lei para o sistema como um todo, sejam elas expansionistas ou contracionistas, já constitui um paradigma interventor por essência. Tal cenário se originou após 1913; antes disso não havia Banco Central nos EUA e em todo esse período não houve ocorrência de crises tão sérias.

Aliado a tais circunstâncias, há de se convir que a influência exercida pela conjuntura econômica internacional esteve dotada de alto grau de significância. A incisiva tendência de alta incutida nos superávits em conta corrente dos países emergentes, bem como das nações asiáticas industrializadas, fez com que se constituísse uma abrupta e excessiva formação de poupança, que foi conduzida majoritariamente para a alocação em títulos públicos americanos, a fim de se garantir um meio de preservar recursos ociosos na segura e estável economia dos EUA. Tal movimento maciço de capitais gerou uma queda expressiva na taxa de juros, o que proporcionou incentivos deletérios voltados para uma maior liberação de crédito para a população mais pobre do país, mais suscetível à inadimplência. Unindo-se a força de tais acontecimentos à tendência populista dos ciclos eleitorais, um setor amplamente popular e demandado – o de imóveis – foi bastante explorado em políticas expansionistas de governos.

A errônea atitude do Federal Reserve (Banco Central americano) de oferecer garantias implícitas de socorro financeiro em caso de insolvência fez com que as instituições negligenciassem riscos intoleráveis, tendo em vista que aufeririam lucros ao mesmo tempo em que teriam sua responsabilidade terceirizada. Este compêndio de circunstâncias adversas, somado aos já conhecidos desdobramentos (relacionados aos repasses desenfreados dos direitos de recebimento de dívidas, os CDOs, e à sua securitização, via CDS), fez com que fosse deflagrado um período catastrófico para a economia, alcançando efeitos supranacionais, gerando desemprego em massa, falência de respeitadas instituições privadas e descrédito espantoso de entidades governamentais e reguladoras.


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