BRASIL: MORAES SE REÚNE COM LIRA PARA TENTAR “APROXIMAÇÃO”

Um balanço do primeiro turno em João Pessoa

O pleito municipal de João Pessoa apresentou uma configuração muito atípica, com reviravoltas e fatores inéditos, mas com velhos resultados. Com estrondosos 157.418 (30,14% do eleitorado) eleitores que deixaram de votar, anularam o voto ou votaram branco, o resultado apontou dois candidatos com votos equivalentes a menos da metade desse montante, ou seja, somados, não alcançaram o número de pessoas que se recusaram a participar da eleição, pelo menos ativamente. Isso indica que o confronto entre Cícero Lucena (Progressistas) e Nilvan Ferreira (MDB) deve gerar novamente uma grande abstenção.

É importante ressaltar dois erros crassos da última pesquisa antes do dia votação, realizada pelo Ibope, que apontou Cícero com 27% dos votos válidos e Wallber Virgolino (Patriotas), com 9%. O primeiro terminou com 20,72% e o segundo, com 13,93%, excedendo a já ampla margem de erro de 4 pontos percentuais para mais ou para menos. No caso do líder da pesquisa não deve ter havido tanta influência, já que sua consolidação ao segundo turno era um consenso há várias semanas, mas, no caso de Wallber, pode ter influído na migração do voto útil para Ruy Carneiro (PSDB), que apresentou um crescimento considerável na reta final.

O resultado mostrou, fundamentalmente, quatro surpresas entre as candidaturas, duas positivas e duas negativas. A maior delas, positiva, foi o desempenho de Ruy, que aparentava ser mais um coadjuvante moderado em um pleito possivelmente polarizado entre direita e esquerda ou entre outsider e establishment, mas conseguiu ultrapassar Wallber e Ricardo Coutinho (PSB), dois candidatos considerados fortes, sobretudo pelo posicionamento bem estabelecido e consolidado na direita e na esquerda, respectivamente, ficando fora do segundo turno por apenas 875 votos (0,24% dos votos válidos). Tal fato se deveu, provavelmente, à sua postura acertada frente a Ricardo e Cícero, os dois candidatos mais rejeitados da eleição, criticando-os fervorosamente sobre os assuntos mais relevantes do contexto: o escândalo que foi, por si só, a candidatura do primeiro, por conta dos áudios, delações e demais evidências apresentadas pelo Ministério Público que o apontam como líder do esquema criminoso que desviou cerca de R$ 134 milhões da saúde pública do estado; e o vínculo político do segundo com um dos principais investigados do mesmo esquema, o governador João Azevêdo (Cidadania), somado ao usufruto de luxuosas regalias com dinheiro público. Isso o diferenciou, por exemplo, do que representou Geraldo Alckmin (PSDB) na disputa presidencial de 2018, que optou por se omitir diante do grupo político mais rejeitado do momento (PT e companhia) ao mesmo tempo em que atacava Jair Bolsonaro, visto com bons olhos pelo majoritário eleitorado conservador e indignado. Ruy não atacou candidatos que se colocaram como conservadores, apresentou o segundo maior gasto de campanha declarado (R$ 1.840.512,32), boa oratória e propostas técnicas, bem definidas e explicadas, além de possivelmente ter concentrado a maior parte do voto útil por conta da pesquisa divulgada na véspera.

A segunda surpresa, também positiva, foi a inesperada consolidação das intenções de voto de Nilvan, que apesar de terem despencado durante a pré-campanha, mostraram um piso no montante suficiente para ir ao segundo turno, por pouco. Mesmo fracassando na busca pelo voto da classe média, cativou de forma surpreendente o eleitorado de baixa renda, residente em favelas e arredores, o que pode ser explicado pela sua fama como apresentador de programas de rádio e TV, voltados sobretudo a esse mesmo público, e pela sofisticada estrutura de campanha, contando inclusive com um dos melhores marqueteiros do Brasil, vencedor da última campanha presidencial.

As duas surpresas negativas, apesar de bastante distintas em seus respectivos contextos, foram Edilma Freire (PV), que mesmo com a máquina pública municipal a seu favor, com quase 30 mil servidores não concursados e poder para oferecer benesses à população mais pobre, não conseguiu um crescimento relevante a ponto de tirar mais votos de Nilvan e chegar pelo menos perto do segundo turno, o que pode ser explicado pela desunião política dentro da prefeitura, causada pela postura de Luciano Cartaxo (PV) e pela influência e poder de persuasão de Cícero e companhia, e pela falta de carisma e preparo da candidata para angariar votos espontâneos; e Wallber, que apesar de ter apresentado o melhor custo-benefício (custo por voto) de campanha da disputa, próprio de candidatos bolsonaristas, ficando a apenas 2,69 pontos percentuais de ir ao segundo turno, não foi agraciado pelo apoio público e formal do presidente Bolsonaro ou de algum de seus filhos, que lhe daria o fôlego extra que faltou, e foi atrapalhado por candidaturas aliadas do grupo político de João Azevêdo e Cícero (Raoni Mendes (DEM) e João Almeida (Solidariedade)), que tiraram, juntas, 6% dos votos válidos, em boa parte oriundos, provavelmente, de um eleitorado que votaria nele em caso de ausência desses dois candidatos. Ademais, Wallber também dividiu votos com Ruy, que, como explicado, deve ter sido beneficiado pela maior parte do voto útil e também soube se posicionar razoavelmente bem frente aos eleitores conservadores, e teve uma estrutura de campanha considerada por muitos como amadora. O delegado sai fortalecido política e eleitoralmente para voos mais altos.

A fase final da disputa pela prefeitura da capital paraibana deve começar a delimitar mais claramente, como já vem fazendo, os blocos de oposição e situação para a disputa pelo governo do estado em 2022, com o primeiro provavelmente encabeçado por Romero Rodrigues (PSD) e o segundo pelo atual governador, João Azevêdo. Existe uma maior chance de Cícero vencer esta eleição, por conta de Nilvan encontrar grandes dificuldades para ganhar o voto da classe média e pelo fato de o primeiro ter a seu favor a máquina pública estadual e aliados com grande influência em Brasília a ponto, por exemplo, de barrar a participação decisiva do presidente da República no pleito, que seria contrária ao ex-prefeito. A estratégia mais bem sucedida até o presente momento, sem dúvida, foi a deste último, pois conseguiu impedir a ida ao segundo turno dos dois adversários mais fortes e perigosos para ele, Wallber e Edilma, e, por sorte, escapou de enfrentar Ruy, que provavelmente também ofereceria enorme risco de derrota.


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