O impacto das eleições no mercado

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O cenário interno brasileiro, denotando alta volatilidade nos mercados, tem estado fortemente atrelado à disputa eleitoral. O fluxo de investimentos depende da formação de um ambiente de negócios atrativo, fundamentado em previsibilidade e estabilidade institucional. Para concretizar tal contexto, é indispensável a aprovação das reformas econômicas que limitem o gasto do setor público, inibindo o déficit primário e gerando garantias de sustentabilidade do endividamento governamental.

A PEC que estabeleceu um teto para as despesas estatais, indexando-as ao gasto do exercício anterior em termos reais, se torna inviável caso a reforma da previdência não seja aprovada, tendo em vista o seu crescente déficit, gerado essencialmente pelo fato de que seus recursos não são restritos à própria finalidade, podendo ser destinados a outros fins, tendo fatores demográficos como agravantes (cada vez menos trabalhadores e mais aposentados). 

A vitória de um candidato reformista no pleito presidencial, em conjunto com perspectivas de apoio do Congresso, faz-se necessária para que a bolsa brasileira consolide tendência de alta e o fluxo de capital entrante se torne consistente, acarretando em valorização do real. Inicialmente, o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) despontava como a aposta do mercado, devido à sua sinalização em favor das reformas e seu histórico como gestor (tendo feito ajuste fiscal como governador de São Paulo) e aliado do governo Temer em suas pautas econômicas. No entanto, ao estagnar em torno de 10% das intenções de voto, mesmo possuindo o maior tempo de exposição no rádio e na TV, perdeu força entre os investidores como sendo o provável vitorioso.

Isolado na liderança das intenções de voto, Jair Bolsonaro (PSL), com sua equipe econômica encabeçada pelo economista Paulo Guedes, muito bem quisto pelo mercado, passou a ser visto como o provável vencedor, principalmente após o atentado sofrido pelo candidato na quinta-feira (6 de setembro), devido à comoção e à intensificação do clima político de polarização entre establishment e outsider, fenômeno que acometeu não apenas o Brasil, mas também os EUA, com Donald Trump, e a Europa, com o Brexit e outras possibilidades de dissidência da União Europeia. Apesar de no passado ter defendido pautas intervencionistas e ter se posicionado contra algumas reformas econômicas fundamentais, o candidato passou a adotar, há alguns anos, um discurso mais voltado para a diminuição do tamanho do Estado e de seus gastos. Diante disso, os investidores lhe dão o benefício da dúvida, com a expectativa de que sua equipe econômica possa ter autonomia suficiente para pautar as políticas fiscal e monetária. Entretanto, há também alguma incerteza em relação ao relacionamento de Bolsonaro com o Congresso, caso eleito.

Na disputa da segunda vaga do segundo turno, enquanto Alckmin mostra estagnação, Marina Silva (Rede), apesar de possuir bons quadros para a área econômica, esboça pouca assertividade e tem apresentado queda expressiva das intenções de voto de acordo com a maioria dos institutos de pesquisa, dando espaço para Ciro Gomes (PDT), que com sua proposta mais alardeada, de refinanciar a dívida dos inadimplentes registrados no SPC, tem crescido nas intenções de voto. Tal medida é apenas uma das demonstrações de populismo insustentável em seu programa de governo, que também conta com a revogação das reformas realizadas no governo Temer, criação e aumento de impostos e crescimento expressivo da intervenção estatal na economia. Entre os candidatos com chances reais de vencer, Ciro desponta como o mais imprevisível para o mercado, logo, a entrada de investimentos tende a reagir negativamente de acordo com o aumento de suas chances de vitória. Correndo por fora, Fernando Haddad (PT), recentemente oficializado como candidato a presidente, após a impugnação da candidatura de Lula (PT), apresentou alta significativa nas pesquisas, devido à transferência de votos oriunda de sua associação midiática ao ex-presidente, possuindo ainda elevado potencial de crescimento. Não obstante seu vínculo ao grupo político que causou a crise da qual vem se recuperando o país, os investidores o consideram menos imprevisível que Ciro, dada a experiência com o histórico dos mandatos de Lula, que mantiveram razoavelmente, na maior parte do tempo, os pilares institucionais de uma economia estável.

O próximo presidente terá de lidar com um cenário de dívida pública líquida acima de 50% do PIB, déficit crescente, capitaneado pela Previdência Social, e baixo crescimento do PIB, mesmo após sair da recessão. No contexto internacional, os EUA, com políticas protecionistas, de restrição de importações, incentivam o aumento de sua inflação, que poderá acarretar em aumento da taxa de juros, drenando o fluxo de capital dos países emergentes, como o Brasil. Em relação à Europa, o Brasil deve se beneficiar com a criação de novos acordos bilaterais, dada a readequação dos dissidentes da UE no comércio internacional.


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