Brasil: a sucessão de tragédias e as mazelas do sistema



As sucessivas tragédias que vêm acometendo o Brasil, sendo alarmadamente noticiadas e repercutidas no meio midiático, são reflexo de uma periclitante conjuntura que envolve o país desde as suas mais diversas camadas institucionais. A inépcia do mecanismo jurídico e regulatório acarreta num perverso cenário onde são criadas dificuldades para que se possa vender, marginalmente, facilidades, e o grosso da população, encarada como amontoado de figurantes sociais, padece tragicamente.

Os emblemáticos casos de Brumadinho e Mariana, que resultaram de classificações de segurança com critérios propositalmente inadequados e negligência fiscalizatória; bem como o incêndio no Centro de Treinamento do Flamengo, onde as condições de alojamento eram precárias e irregulares; as enchentes devastadoras, causadas essencialmente por mau planejamento urbano; e até a morte do jornalista Ricardo Boechat, cujo helicóptero que o transportava era de uma empresa que não possui autorização para táxi aéreo, geram a impressão de anormalidade e estasiam a opinião pública, tanto pela gravidade, quanto pela notória fama dos envolvidos. No entanto, a realidade brasileira se constitui por um amontoado contínuo de descalabros e catástrofes, o qual a população foi friamente condicionada a manifestar apatia. A calamidade está presente em praticamente toda nuance do cotidiano nacional: nos imóveis em situação irregular, na imprudência do trânsito, nos acordos políticos espúrios, na passividade do sistema penal, na quantidade de assassinatos e crimes em geral, etc.

Tal problema visceral de forma alguma é resultado da essência do modelo da economia de mercado, que, como é sabido, está muito distante de ter o Brasil, centésimo quinquagésimo no ranking de liberdade econômica, como um exemplo de signatário; mas sim da ação da asfixiante burocracia inerente aos mecanismos contraproducentes e indutores de corrupção que permeiam os setores sociais. A criação de obstáculos excessivos ao funcionamento das instituições e à fluidez da vida cotidiana do cidadão médio, por meio dos artifícios jurídico e autárquico, faz com que não apenas o Estado se sobrecarregue no cumprimento de suas funções básicas, como o resguardo legal dos acordos contratuais, o garantimento da ordem social e a fiscalização, mas também proporcione incentivos perversos aos agentes envolvidos em tal sistema inadequado, que passam a ser condicionados a negociatas corrompidas a fim de manter a aparência de normalidade, que não resiste a um simples estopim do acaso. Os reguladores passam a deter poder centralizado e, na cômoda posição de paladinos da legalidade que lhes isenta do rigor necessário que pretensamente empregam, a capacidade de atrelar seus indispensáveis avais a contrapartidas obscuras daqueles que são obrigados a passar por seu crivo. Seja o primeiro impulso corruptor partindo das autarquias ou das instituições reguladas, a causa de tal mal reside no intervencionismo burocrático e excessivo.

Em um contexto onde seus participantes convivem na prática com os traços da mazela institucionalizada que os acomete, mas se escandalizam apenas com suas amostras ínfimas mais midiáticas, que brevemente são esquecidas, pois o foco é gradualmente reconduzido pela natureza humana e pela fluidez do dia a dia à seara individual, e a culpa recai sobre males abstratos e insolúveis, como a mera "ganância" de empreendedores, a verdadeira raiz do caos se fortalece a cada geração por meio do paradigma do paternalismo estatal.


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