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Reflexões sobre a morte (conclusão) - Morte e cristianismo


1.5. Morte e cristianismo 

As religiões debruçam-se sobre os mistérios da aniquilação da vida orgânica, buscando desvendar o sentido da existência. Concluirei o ensaio refletindo sobre a morte com base nos ensinamentos do cristianismo, que é a religião que professo. 

A morte é um evento natural, mero efeito da vivência. Implica na destruição completa do organismo e o destino irrefutável do envoltório material da alma humana angustia quem nele pensa. Somente a crença na eternidade do espírito pode encorajar o ser humano diante do fim da existência terrena. 

Apesar da fé, muitas vezes o crente não consegue afastar o medo que sente do inelutável desfecho do existir. O temor não decorre apenas do apego que tem ao próprio corpo e às boas coisas materiais existentes na terra. Resulta, principalmente, da insegurança que toma conta de seu raciocínio, pois não sabe se encontrará aos que ama após o término da vida, nem quando se dará o seu resgate para junto do Altíssimo, se imediatamente, ou algum tempo depois. 

Eis as causas da inquietação e do desespero de muitos quando pressentem que a ceifadora de vidas se apropinqua. Augusto dos Anjos descreveu em versos a sensação dessa angústia:

“A passagem dos séculos me assombra.
Para onde irá correndo minha sombra
Nesse cavalo de eletricidade?!
Caminho e a mim pergunto, na vertigem:
- Quem sou? Para onde vou? Qual minha origem?
E parece um sonho a realidade.

Em vão com o grito do meu peito impreco!
Dos brados meus ouvindo apenas o eco,
Eu torço os braços numa angústia douda
E muita vez, à meia noite, rio
Sinistramente, vendo o verme frio
Que há de comer a minha carne toda!

É a morte – esta carnívora
“Serpente má de língua envenenada
Que tudo que acha no caminho come...
- Faminta e atra mulher que, a 1º de janeiro,
Sai para assassinar o mundo inteiro,
E o mundo inteiro não lhe mata a fome!” [1]

Outros indivíduos não se afligem, nem esmorecem defronte da morte, ou se predizem que lhes sobra pouco tempo de vida. Pelo contrário, resistem, fortalecem-se espiritualmente, prosseguem imaginando ou executando seus planos como se não fossem morrer nunca. Em certos casos, conseguem realizar proezas e conquistar, desse modo, prestígio e respeito. 

Os que se comportam assim, independentemente da religião que sigam, ou de serem agnósticos ou ateus, despertam a admiração de quem os conhece, ou deles ouve falar. 

Waldo Lima do Valle retratou, numa trova, a firmeza de espírito de quem se entrega a Deus durante a vida, ou nos momentos derradeiros:

“SE MORRERMOS EM JESUS.

Morrer gloriosamente
No regaço de Jesus
É renascer cristamente
Numa alvorada de luz.” [2] 

Muitos cristãos não temeram a morte. Não se preocuparam em preservar a vida a qualquer preço. Para os heróis propagadores do Cristianismo, o que importa é a obediência e a fidelidade a Deus em qualquer circunstância. Por isso são tão admirados e festejados nas Igrejas. 

Paulo é um exemplo de crente destemido diante da morte. Depois de ouvir de um profeta, Ágabo, o aviso de que seria amarrado e entregue aos gentios se fosse a Jerusalém, manteve-se fiel ao compromisso de anunciar a palavra na referida cidade. Agiu com bravura. Declarou-se “pronto não apenas para ser amarrado, mas também para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus.” (At: 21: 13). 

1.6. Conclusão 

Instigado a responder a pergunta que dá título ao presente ensaio, consulto, sendo cristão, as Escrituras. 

No Apocalipse, leio o relato sobre a guerra que se travou nas dimensões celestiais, na qual, depois de derrotado pelo Arcanjo Miguel e seu exército de Anjos, Satanás foi definitivamente expulso do céu e lançado de volta à terra, onde ainda persegue os cristãos e seduz as pessoas. Informa-se inclusive que a vitória das hostes Divinas se consolidou “por causa do sangue do Cordeiro e por intermédio da palavra do testemunho” dos fiéis, que “face a face com a morte, não amaram mais a própria vida!” (Ap. 12: 11). 

Na última profecia, João se referiu ao testemunho dos mártires, mas falou também da salvação dos justos e dos santos. Os mártires, mortos em Cristo, participarão da primeira ressurreição quando ocorrer o retorno do Senhor (Lc: 14:14; 1 Co: 15:23 e 1 Ts: 4: 16). Os santos, que estiverem vivendo “revestidos da armadura da fé e do amor, tendo por capacete a esperança da salvação” serão arrebatados para encontrar Cristo nos ares e viver na companhia Dele para sempre (1 Ts: 4: 17 e 5:8; e Ap. 20: 6). Os justos, que repousam em seus túmulos, despertarão da morte física, eis que seus nomes estão gravados no Livro da Vida, pois creram sinceramente, durante suas existências, em Jesus e na sua obra redentora, o que lhes salvará do juízo final pela graça de Deus-Pai (Jo: 1: 12 e 5: 28-29; e Ap: 20: 4-15 ). 

Antes do juízo final, uma labareda descida dos céus devorará os incrédulos. O Diabo, depois de perder a última batalha, será jogado “no lago de fogo que arde com enxofre”, onde já estarão “confinados a Besta e o Falso profeta”. Ali, as Potestades do mal e os pecadores impenitentes vão se atormentar “dia e noite pelos séculos dos séculos.” (Ap: 20: 7 – 10). 

No juízo final, quando for aberto o Livro da Vida, todos os mortos que não participaram da primeira ressurreição e não estiverem salvos porque não foram mártires, nem santos, nem justos, ficarão de pé diante do trono, para ser julgados “de acordo com suas obras realizadas” (Ap: 20: 12). Alguns poderão ser salvos pela infinita misericórdia de Deus, mas os ímpios serão condenados e jogados no lago de fogo (Ap: 20; 7-15). 

O apóstolo Paulo, ao dissertar sobre a ressurreição dos mortos, garantiu que “em Cristo todos serão vivificados” (1 Co: 15:22), pois a morte é “o último inimigo que será destruído” (1 Co: 15:26). 

Tiago, meio irmão de Jesus, pois era filho de Maria com seu esposo José, assegura, em sua epístola, que são bem-aventurados “todos quantos demonstraram fé ao atravessar muitas aflições”, pois “o Senhor é pleno de compaixão e misericórdia” (Tg: 5:11). 

Mísero pecador, consciente da fragilidade do meu existir na terra, não me desespero nem vejo a morte como o fim de tudo. Creio em Deus. Aceito Jesus como meu Salvador. O Espírito Santo refreia minha natureza naturalmente pecaminosa, concedendo-me discernimento para entender que Cristo me redimiu através do seu espontâneo sacrifício. 

O Cordeiro de Deus venceu a morte. Eis o fato que me enche de esperança. 

Jesus é o Bom Pastor e me liberta da morte espiritual, assegurando-me a vida eterna nos planos das extensões celestiais, onde minha alma habitará acolhida pelo Amor infinito, a Graça maravilhosa e a Misericórdia incomensurável do Criador. 

Apesar dos meus defeitos e fragilidades, desejo viver em comunhão com Cristo. Carrego, portanto, em meu coração, a esperança na imortalidade do meu espírito. 

Posso repetir o filósofo Kierkegaard, afirmando que “o crente tem no possível o eterno e seguro antídoto do desespero. Porque Deus pode a todo instante. É esse o combustível da fé.” [3] 

Louvado seja o nome do Altíssimo!


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Referências bibliográficas:

[1] AUGUSTO DOS ANJOS, (Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos). Versos do “POEMA NEGRO”, divulgado no livro “TODA A POESIA DE AUGUSTO DOS ANJOS E UM ESTUDO CRÍTICO DE FERREIRA GULLAR.” P. 128 (págs. 128-130).

[2] Valle, Waldo Lima do. DIÁRIO DE UM ANJO. Obra citada. P. 220.

[3] KIERKEGAARD, Sören Aabye (1813 – 1855). O DESESPERO HUMANO. São Paulo/SP: Editora Martin Claret. 2002. P. 42.

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