BRASIL: SENADOR IZALCI ANALISA ANDAMENTO DA PEC DAS DROGAS

Série Presidenciáveis: João Amoêdo


João Amoêdo, candidato pelo partido Novo, se apresenta numa plataforma dita liberal e foca suas bandeiras em aspectos fundamentalmente econômicos, pregando redução do tamanho do Estado em termos de atribuições administrativas a fim de focar em áreas que seriam sua atribuição essencial, como saúde, ensino, infraestrutura e segurança. Junto a isso, o presidenciável prioriza em sua retórica a luta contra privilégios e regalias estatais, que tornam o gasto público ineficiente e geram desigualdade.

O partido Novo, fundado em 2011, preza por princípios que pregam a desvinculação a qualquer tipo de financiamento estatal para campanhas eleitorais, bem como um rigoroso procedimento de filtragem para novos filiados. Em seus primeiros anos de vigência, o partido restringiu suas candidaturas a poucas cidades estratégicas, para, gradualmente, obter espaço sem correr riscos com um número maior ou "excessivo" de candidatos que poderia trazer decepções e nódoas individuais que comprometessem a credibilidade da entidade. Derivando de tal precaução e rigor metodológico, também optou por não constituir coligação partidária, abrindo mão dos benefícios de maior tempo de rádio e TV e de participação nos principais debates, basilares para a publicidade das candidaturas e propostas.

Essa postura, apesar de bem intencionada, mostra-se excessivamente dogmática, gerando sérios entraves ao partido na tarefa de divulgar as ideias liberais, tão pouco apoiadas no país, ou mesmo de eleger seus defensores. A almejada influência cultural sobre os cidadãos e eleitores não se dá fundamentalmente em eleições, mas sim por meio da ocupação de espaços e instituições no decorrer das gerações, para, então, concretizar as mudanças com a ação política. Há um equívoco generalizado na estratégia daqueles que, se dizendo liberais, separam as searas cultural e econômica uma da outra e priorizam a segunda, pois não é possível promover avanços materiais consistentes e duráveis sem a consolidação prévia, na mente da sociedade, das ideias que os trazem, e tal tarefa se realiza apenas por meio da priorização da propagação de valores transcendentes, isto é, daquilo que está ligado à consciência moral.

Apesar de todo o esforço em passar credibilidade e comprometimento real com a renovação, em termos de discernimento ideológico, João Amoêdo tem demonstrado deficiências significativas que geram convergência à cosmovisão do establishment: na fatídica exposição do Museu de Arte Moderna, onde foi exibido conteúdo pornográfico para crianças, incluindo contato físico, o candidato repudiou o evento, afirmando que não levaria seus filhos menores para este, no entanto, defendeu o "direito" de sua realização; quando questionado, em entrevista, sobre sua posição a respeito do aborto, afirmou que é pessoalmente contra, mas que se, sendo presidente, o congresso e as pessoas aprovassem, não vetaria; na mesma entrevista, afirmou também ser a favor, com exceção da pauta da ideologia de gênero, do conjunto de medidas da Agenda 2030, da ONU, porém, tal agenda prega uma série de intervenções do órgão internacional em pautas relativas à soberania nacional dos países concordantes, como política de imigração (pouca rigidez), de comércio internacional, de regulação trabalhista, industrial (restrições ambientais adicionais) e saúde reprodutiva (aborto).

A doutrina liberal consiste na defesa dos direitos fundamentais do ser humano, por meio da firmeza do código jurídico no garantimento dos pilares da liberdade, respaldado pelas forças de segurança pública. Negligenciar a importância do essencial direito à vida; da integridade psicológica de crianças, indivíduos sem maturidade para responder por seus próprios atos; e da soberania nacional, caracteriza fatal erraticidade, a qual acarreta o esfacelamento das premissas nevrálgicas do liberalismo e denota pouco preparo para lidar com a guerra cultural.

O candidato do Novo simboliza um dos crescentes e cada vez mais relevantes efeitos do fenômeno social, iniciado em 2015, de reprovação ao estamento burocrático, que, afoitamente, acabou culminando no insuficiente impeachment de Dilma Rousseff. Suas bandeiras de redução do tamanho do Estado, apesar de não excluírem de sua tutela a saúde e o ensino, que vieram a ser defendidos como serviços públicos pela social-democracia, são importantes para o debate político do país, que por tantas décadas esteve órfão delas. Entretanto, a falta de convicção em assuntos de suma importância (como o armamento civil, que embora tenha sido defendido ocasionalmente pelo candidato, não consta em seu programa de governo), tanto por parte de Amoêdo, quanto de seu partido, somada aos princípios pouco pragmáticos deste no trato eleitoral, dificultam uma maior adesão popular ao seu projeto, tornando-o essencialmente limitado à militância virtual. Para que, de fato, se torne um genuíno e competitivo outsider, é preciso romper com o fortemente enraizado paradigma do materialismo, em que a economia está acima da cultura e dos valores transcendentes, e se aproximar mais do eleitorado mediante retórica simplificada e concessões moralmente aceitáveis a alguns costumes eleitorais necessários para uma melhor divulgação dos quadrospartidários.


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Comentários

  1. Se Amoêdo considerasse como negativos os pontos aqui expostos por você de forma crítica, nada iria diferencia-lo dos demais candidatos/partidos.

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